sábado, 30 de agosto de 2014

Ranking mundial colocou o Brasil entre os piores no ensino de matemática



Levantamento do Movimento Todos pela Educação, feito com exclusividade para o G1, aponta que controlar de perto a lição de casa, oferecer aulas de reforço, incentivar e estimular os professores, e aproveitar parcerias com o governo são algumas das medidas adotadas por dez escolas públicas brasileiras consideradas "bons exemplos" no ensino de matemática. Dados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) 2012, divulgados na terça-feira (3), apontam que o Brasil melhorou no conhecimento da disciplina, mas ainda tem muito a avançar. O país ficou em 58º lugar entre 65 nações no ensino de matemática – a grande maioria dos alunos brasileiros sabe somar, subtrair, multiplicar e dividir, mas ainda não consegue aplicar esses conceitos no dia a dia.

As escolas brasileiras avaliadas pelo Movimento Todos pela Educação mantêm desde 2007 resultados consistentes e acima da média nacional nas questões de matemática da Prova Brasil, feita a cada dois anos para analisar a qualidade das turmas de 5º e 9º ano do ensino fundamental e de 3º ano do ensino médio. O levantamento revela que alunos dessas escolas têm desempenho similar aos de instituições de ponta, como os colégios militares, federais e de aplicação.

Critério de escolha
O critério de seleção usado no cruzamento de dados foi a porcentagem de alunos do 9º ano do ensino fundamental – idade ideal entre 14 e 15 anos – com aprendizado adequado em matemática acima de 45% na Prova Brasil de 2007, superior a 60% na edição 2009 e maior que 70% em 2011.
Em 2011, a meta esperada para o Brasil nesse quesito era de 25,4%, mas a média nacional ficou em 16,9%. Tendo desempenho acima de 70%, essas escolas já atingiram a meta do Movimento Todos pela Educação para 2021 para o aprendizado em matemática no 9º ano.

Seguindo os critérios acima, foi possível chegar a um grupo de dez escolas nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. No Norte e no Nordeste, as escolas públicas acima das metas são federais, militares ou de aplicação, afirma o Todos pela Educação. Segundo Priscila Cruz, diretora executiva do movimento, as instituições destacadas nesse levantamento mostram que fazer o trabalho básico no ensino pode dar bons resultados. "Elas fazem muito bem feito o básico e conseguem avançar, às vezes mais do que aquelas que ficam inventando coisas mirabolantes", diz.

Para descobrir os detalhes sobre os projetos pedagógicos desse grupo de escolas municipais e estaduais, o G1 entrevistou professores e diretores. Em comum, as instituições têm o fato de serem pequenas, com menos de 100 alunos matriculados no 9º ano. Elas representam, portanto, o perfil médio das escolas do país – a média de matrículas nessa série foi, em 2011, de 70 alunos.

Veja as cinco principais medidas destacadas pelas escolas no levantamento:

1) Não deixar nenhum aluno para trás
O principal foco das escolas é "não deixar o aluno para trás". As instituições ouvidas pelo G1 não fazem vestibulinho nem selecionam os alunos por desempenho acadêmico. Porém, elas dizem que mantêm o hábito de estar sempre atentas aos estudantes – novos ou antigos– que apresentam dificuldades nas aulas. Em matemática, a criança precisa aprender todo o conteúdo de uma etapa para ir para a fase (série) seguinte. Se não aprender cada um desses passos, vai se perdendo no processo ao longo dos anos.

Continuidade no trabalho com os estudantes em todo o ensino fundamental e apoio aos que têm dificuldade são alguns dos segredos por trás do sucesso que a Escola Municipal José Negri, de Sertãozinho (SP), tem obtido nos últimos anos. Em 2011, 80,7% dos estudantes tiveram desempenho adequado em matemática na Prova Brasil – muito acima da meta do país para 2011, de 25,4% dos alunos.

Lá, além de aulas clássicas de matemática, os alunos estudam no laboratório de informática. Eles também são "avaliados internamente de várias formas, com provas individuais, mensais e bimestrais, exercícios resolvidos em casa e em sala de aula". Um dos caminhos seguidos pelos professores para garantir a fixação do conteúdo é partir do concreto para o abstrato, explica a diretora Inês Angélica Servidoni Nogueira Cabril, de 74 anos. Assim, segundo ela, o aluno constrói o conhecimento através de situações-problema.

Na Escola Estadual Francidene Soares Barroso, de Itamarati (AM), das oito aulas semanais de matemática para alunos do ensino fundamental e médio, duas são específicas para um melhor desempenho no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) e duas para a olimpíada de matemática da instituição. "Fazemos acompanhamento a cada prova aplicada. Os professores que trabalham com ensino da matemática têm formação com cursos específicos e trabalham em cima das competências cobradas na Prova Brasil", afirma Gleice Menezes, diretora da escola há 15 anos.

Os alunos que não acompanham a turma têm aulas de reforço. O colégio, porém, conta com um poderoso aliado. "Os estudantes são muito interessados, sempre dizem que gostam mais de matemática e se identificam com a matéria. Nosso desafio agora é envolver mais as famílias, o que ainda é um problema para nós", diz Gleice.

Desde as séries iniciais do ensino fundamental da Escola Municipal Professor Doriol Beato, de Conselheiro Lafaiete (MG), os alunos são livres para participar de atividades extraclasse de reforço, caso tenham dificuldade de aprendizagem específica em matemática. "Só vem o aluno que quer estudar", diz a diretora Maria Cristina de Moura Fernandes, que está na escola há 22 anos e já atuou como coordenadora e pedagoga do colégio. Em 2011, o Doriol teve 76,6% dos alunos com o aprendizado esperado na área.

Na Escola Municipal Pastor Hans Müller, localizada em Joinville (SC), a evasão escolar e o rodízio de professores são muito baixos. Atualmente, são 830 alunos. Quem entra no 1º ano costuma ficar até o 9º e concluir o ensino fundamental. Na grade curricular, os alunos podem optar entre inglês e alemão. A boa infraestrutura é outra aliada: a instituição tem laboratório de informática, biblioteca, quadra coberta e auditório. "A escola é muito procurada por conta dos bons resultados que alcança. Temos uma demanda grande, há pelo menos 20 crianças na lista de espera para cada série", afirma a diretora Wally Maria Effting.

2) Incentivar os alunos já avançados
Várias das escolas que entraram no levantamento, por terem mais de 70% de seus alunos com aprendizado adequado em matemática em 2011, não se contentam apenas com a palavra "adequada". Por isso, os professores não só ajudam os alunos com maior dificuldade a acompanhar a turma, mas incentivam os estudantes com maior facilidade a continuar avançando em seu próprio ritmo. Uma das maneiras mais comuns de fazer isso é por meio das olimpíadas acadêmicas, principalmente a Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (Obmep).

Para estimular o interesse de seus estudantes, a professora Sônia Ruschel Poersch, do Colégio Estadual Professor Jacob Milton Bennemann, do município de Feliz (RS), diz que tomou para si a tarefa de inscrever os alunos nas olimpíadas de matemática e que, apesar de alguns decidirem participar apenas "fazendo por fazer", ela afirma que outros já pegaram gosto pela competição, mas ainda não ganharam medalhas.

De acordo com Sônia, o que dá resultado é um trabalho constante de cobrança para que os estudantes façam exercícios, incluindo lições de casa várias vezes por semana, com pesquisa e apresentação de trabalhos. Suas ferramentas são velhas conhecidas de todas as gerações: o livro, o caderno, o giz e o quadro negro. "É um trabalho mais tradicional. Em matemática, tem que fazer exercício, assimilar, entender, fazer, fazer e fazer."

Em Sertãozinho (SP), o estudante Otávio Sarti Alves, de 13 anos, aluno da Escola Municipal Professor José Negri, coleciona medalhas em matemática. "A gente se esforça, mas a qualidade do ensino é o que mais conta", diz. "Perguntam se sou inteligente, mas acho que a inteligência depende do nosso esforço. Por isso, a gente tem que aproveitar as oportunidades que tem na escola."

Na edição deste ano, 19 estudantes da Unidade Escolar Teotônio Ferreira Brandão, escola municipal de Cocal dos Alves, no interior do Piauí, passaram para a segunda fase da Obmep, e 17 foram premiados – um com medalha de prata, cinco com bronze e 11 com menções honrosas. Segundo o diretor do colégio, João de Brito Amaral, os professores vão à escola aos sábados para tirar dúvidas dos alunos, que são incentivados a criar grupos de estudos.

Principalmente no segundo semestre, e em anos de aplicação da Prova Brasil e outras avaliações, a escola também instituiu um sistema de reforço escolar no contraturno (período inverso àquele em que o aluno está matriculado), no qual alunos do 9° ano são convidados a atuar como professores dos mais novos. "Eles têm uma linguagem até mais acessível aos estudantes das séries menores. A gente só conta com dois professores de matemática para dar apoio", disse Amaral, enfatizando que a escola cumpre todo o currículo obrigatório, e não apenas os conteúdos que caem na Prova Brasil. Em 2011, 89,5% dos alunos do 9° ano apresentaram desempenho adequado na avaliação do MEC.

De acordo com o rendimento dos alunos da escola José Negri, em Sertãozinho (SP), no contraturno eles têm a possibilidade de estudar de maneira focada. "Temos aulas que chamamos de apoio, no período contrário, para alunos com dificuldades. E também aulas de projetos de olimpíadas para os estudantes avançados. Na sala de aula, há ajuda mútua entre eles: os mais avançados procuram ajudar os que têm maior dificuldade", explica a diretora Inês.

Um dos alunos que acabaram se destacando na escola foi Otávio Sarti Alves, que conquistou uma medalha de ouro na Obmep de 2013.

3) Estabelecer laços fortes com os pais
O envolvimento dos pais é um dos fatores citados por professores e diretores dos colégios ouvidos pelo G1 como causa direta dos bons resultados. Na Escola Estadual Dom Aquino Correia, em Juruena (MT), cidade de 12 mil habitantes e distante 900 km da capital Cuiabá, quem elege o diretor é a própria comunidade escolar. Edilso Bratkoski afirma que cumpre seu segundo mandato e, em 2014, deixará a diretoria para voltar a lecionar química e ciência.

Marlene de Paula Freitas, que dirige há cinco anos o Educandário Evangélico Ebenézer, em Gurupi (TO), explica que tenta incentivar os professores e fortalecer parcerias com os pais. Entre os projetos que envolvem as famílias, está o Tarefa de Casa, que incentiva os alunos a fazerem lições de casa com frequência. "Toda criança precisa fazer a tarefa. Se não fizer, tem que ficar 10 ou 15 minutos depois da aula para fazê-la", conta Marlene.

Além da checagem rigorosa do comprometimento dos estudantes com a lição de casa, os professores do educandário ficam de olho no desempenho geral de seus alunos. "Quando a professora percebe que a criança está ficando relapsa, desmotivada, a gente liga para a mãe e faz convite para vir à escola – não deixa só para o final do ano". O mesmo acontece, segundo a diretora do Ebenézer, na hora de identificar e reduzir as deficiências dos alunos novos, caso eles cheguem à escola atrasados em relação aos demais colegas.

A Escola Municipal Professor Governador Portela, de Miguel Pereira (RJ), foi inaugurada em 1942 para atender os funcionários da Estação Ferroviária Miguel Pereira, que funcionou até 1996 no distrito de Governador Portela. O colégio esteve em operação por 55 anos, ficou desativado por dois e foi reabertao pela prefeitura em 2000, no mesmo endereço – um prédio histórico. Na Prova Brasil de 2011, 89,7% dos alunos do 9° ano tiveram desempenho adequado em matemática.

Segundo o diretor Vladimir dos Santos Barros, o respeito adquirido no passado pela escola se mantém entre os alunos, professores e a comunidade até hoje. São 200 alunos do 6º ao 9º ano do ensino fundamental, muitos deles têm pais que também estudaram no colégio. "Os pais são muito engajados. Fazemos eventos envolvendo as famílias, o que ajuda a melhorar a qualidade do ensino. A receita é simples: há um compromisso de família, escola e corpo docente com a educação", afirma Barros.

Já a comunidade da escola catarinense Pastor Hans Müller é tão engajada, que os professores se voluntariam para dar aulas de reforço no contraturno escolar. Atualmente, o pai de um dos alunos também faz isso, mas em anos anteriores já houve participação de estudantes do ensino médio de escolas particulares da região. Ainda no período inverso ao das aulas regulares, os estudantes têm como opção atividades como aulas de dança, capoeira e italiano.

4) Recursos e programas do governo
O Educandário Evangélico Ebenézer, do Tocantins, tem, além do desempenho acima da média na Prova Brasil e de uma colocação privilegiada entre as 50 melhores escolas públicas do Brasil no Ideb, 70% das medalhas em olimpíadas do conhecimento conquistadas por estudantes do estado, diz a diretora Marlene.
Com os bons resultados, vieram também os bônus por desempenho a professores, alunos e até funcionários que cuidam da limpeza e da merenda. A escola também aderiu a programas dos governos. Por causa de um deles, conseguiu mais de 600 laptops, que os alunos usam tanto na escola quanto em casa.

Na escola Dom Aquino, de Mato Grosso, o foco da equipe gestora é trabalhar a leitura e interpretação de texto com os alunos, o que também resulta em bons resultados em matemática. Mas o incentivo está ancorado em infraestrutura: para incentivar a leitura entre os mais de mil estudantes da escola, entre ensino fundamental e Educação de Jovens e Adultos (EJA), a biblioteca é bem "recheada". São quase 9 mil títulos, além de revistas e gibis. "Costumamos comprar livros que os alunos indicam e, em média, fazemos 120 locações por dia." Os professores também levam para salas de aula uma "caixa de leitura", com alguns livros que os alunos leem durante os intervalos.

A diretora Wally Maria, da escola Pastor Hans Müller, em Joinville (SC), destacou a baixa rotatividade de docentes como um indicador de qualidade. "Os professores são concursados e permanecem por muitos anos na escola. Isso permite que eles conheçam bem as crianças e as acompanhem durante os nove anos. Os pais também são muito presentes e ajudam a cobrar as tarefas em casa", afirmou.

A cooperação entre professores também dá resultados. Na escola mineira Doriol Beato, os alunos com dificuldades em matemática têm dois professores à disposição: o regular, da sala de aula, e o "recuperador", que ensina no contraturno. "Há um trabalho de equipe: um professor sempre dá continuidade ao trabalho do outro na série seguinte", afirma a diretora Maria Cristina, da Escola Estadual Pio XII, de Bom Princípio (RS). - Fonte

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

STM Engenharia Ambiental - Jequié-BA


segunda-feira, 25 de agosto de 2014

The Noite (19/08/14) - Entrevista com Diego Aranha


É muito difícil separar malícia de incompetência. E no Brasil esses andam juntos quando se trata de política.
E dizem que isto é um "atentado à democracia"!

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

ArtPix - Propaganda & Marketing


quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Eu sobrevivi ao Regime Militar, pois sou pessoa de bem!


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