segunda-feira, 21 de junho de 2010

JEQUIÉ: Algumas considerações sobre o São João Xangô Menino

Pesquisando na internet sobre o São João 2010 de Jequié não é difícil descobrir que as atrações escolhidas para a nossa festa, o mote Xangô Menino e os homenageados Dominguinhos e Gilberto Gil têm sido motivo de elogios e divulgação espontânea na mídia eletrônica por toda parte. Enquanto isso, em Jequié questionam as cores das bandeirolas, as atrações clássicas, a presença do ex-ministro, o mote, o sexo dos anjos... Ano passado, a “polemica” ficou por conta da Vila Junina que “não deveria acontecer na Praça Ruy Barbosa, pois o povo iria danificá-la” na opinião de algumas pessoas. O secretário Benedito Sena insistiu na idéia, a população abraçou civilizadamente e outros municípios vêm copiando.

A Secretaria de Cultura e Turismo está de parabéns por sair do lugar comum (a uniformização, industrialização, artificialização e comercialização da festa) que vem acontecendo em muitos lugares e perdendo suas características regionais e culturais. Esses, inclusive, foram alguns dos fatores responsáveis pelo fim da Micareta. Festa essencialmente interiorana que foi abandonando suas características regionais, sufocando as manifestações espontâneas do povo, ao mesmo tempo em que dava lucros cada vez maiores a poucos promotores até desaparecer de vez na maior parte dos municípios. Em alguns lugares transformou-se na tal “micareta indoor”, a portas fechadas.

O mote Xangô Menino, uma referência à canção de Caetano e Gil, alusão direta ao sincretismo que faz do Brasil esta nação peculiar, construída por povos europeus, indígenas, africanos e tantos outros, também é uma idéia acertada. Merece ser apoiada por todos, principalmente pelos formadores de opinião, como professores e imprensa. As origens das festas juninas vêm de antes do cristianismo, quando os antigos egípcios celebravam o início da colheita cultuando os deuses do sol e da fertilidade. Com o domínio dos romanos a tradição foi para a Europa. O colonizador também é colonizado.

Mais tarde, com o cristianismo, a festa passou a homenagear o nascimento de São João Batista (o São João Menino). No Brasil essa tradição foi imposta pelos portugueses. Hoje, além da cultura pagã (o culto ao sol e a fertilidade), as festas juninas apresentam em sua herança, elementos da cultura francesa (dança de quadrilha), dos povos chineses (fogos de artifício), de Portugal e da Espanha (dança das fitas que geraram nossas bandeirolas). Graças à participação dos povos indígenas, africanos e demais imigrantes tudo isso ganhou cores locais, características regionais, tempero brasileiro na culinária, na dança, na música, na bebida. Não há dúvidas que os festejos juninos são manifestações provenientes da diversidade cultural e devem permanecer assim, ainda que concomitantemente com os modismos que surgem de tempos em tempos.

Fugindo do lugar comum, sem perder as tendências da contemporaneidade, Jequié continua fazendo a diferença com uma festa temática a cada ano (pouca gente sabia quem era Jackson do Pandeiro, homenageado de 2009): seja na ornamentação que além do verde e amarelo (do Brasil na Copa do Mundo), também colocou o vermelho e branco (da bandeira de Jequié e da Bahia); nas alegorias alusivas ao mote Xangô Menino (estamos no ano da copa no continente dos nossos irmãos africanos), ao homenageado Dominguinhos e à honra de sediar o aniversário de Gil; alem da melhor grade de atrações que já teve nosso município no São João, a meu ver.

A ampliação da visão dos festejos juninos para uma ótica muito além de simples evento, resgatando o caráter lúdico e cultural da festa, gerando discussões que só enriquecem nossa gente, entre outras tantas ações que vêm promovendo os valores imateriais do nosso povo é o que justifica a implantação da Secretaria de Cultura. Setor renegado ao último dos planos em administrações anteriores que nunca aplicaram investimentos desta ordem de maneira tão transparente e democrática. - Por Júlio Lucas

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