domingo, 8 de junho de 2025

Os SEM RELIGIÃO já são o terceiro maior grupo no Brasil

Nos últimos anos, o Brasil tem passado por uma transformação significativa em seu cenário religioso. Dados recentes do Censo 2022, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no dia 6 de junho de 2025, mostram que a população que se declara "sem religião" cresceu e agora representa 9,3% dos brasileiros, consolidando-se como o terceiro maior grupo "religioso" do país, atrás apenas dos católicos (56,7%) e evangélicos (26,9%). Essa mudança reflete uma tendência de desinstitucionalização da fé e uma busca por espiritualidade fora das estruturas religiosas tradicionais, especialmente entre jovens urbanos e escolarizados.

De acordo com o Censo 2022, a população sem religião passou de 12,8 milhões em 2010 (7,9%) para 16,4 milhões em 2022 (9,3%), um aumento de 28% em 12 anos. Esse crescimento é ainda mais expressivo entre jovens de 20 a 24 anos, onde o grupo atinge 14,3% da população. A faixa etária de 30 a 39 anos também se destaca, com 21% declarando não seguir nenhuma religião. Homens (56,2%) e pardos (45,1%) predominam nesse grupo, que tem maior concentração no Sudeste (10,5%) e em áreas urbanas. Já entre idosos com 80 anos ou mais, apenas 4,1% se declaram sem religião. "O catolicismo tem maior adesão entre os mais velhos, enquanto o grupo sem religião é mais expressivo entre os jovens", explica Maria Goreth Santos, analista do IBGE.

O município de Chuí, no Rio Grande do Sul, é um caso único: 37,8% de sua população se declara sem religião, a maior proporção do país. A cidade, que faz fronteira com o Uruguai - um dos países mais seculares da América Latina -, já liderava esse índice em 2010. Outros municípios, como Pedro Osório (RS) e Atalaia do Norte (AM), também têm o grupo sem religião como majoritário. Entre os estados, Roraima e Rio de Janeiro se destacam, ambos com 16,9%. Já Piauí (4,3%) e Ceará (5,3%) registram os números mais baixos. Entre as capitais, Salvador se destaca, com 18% da população sem filiação religiosa.

Contrariando estereótipos, a categoria "sem religião" não é composta majoritariamente por ateus ou agnósticos. No Censo 2010, apenas 4% dos sem religião se declaravam ateus e 0,8% agnósticos. A maioria é formada por pessoas que mantêm crenças espirituais, mas rejeitam instituições religiosas como igrejas, templos ou terreiros. Como explica Silvia Fernandes, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), "ser sem religião significa estar afastado das instituições, mas muitos ainda têm práticas pessoais informadas por crenças religiosas ou uma visão pluralista da espiritualidade".

O antropólogo Rodrigo Toniol, da UFRJ, aponta que os sem religião são "impulsionados por jovens urbanos e escolarizados", que questionam dogmas e buscam uma relação mais autônoma com o sagrado. Essa tendência é reforçada por dados do Datafolha de 2022, que indicaram que 34% dos jovens cariocas e 30% dos paulistas entre 16 e 24 anos se declaram sem religião.

O crescimento dos sem religião ocorre em paralelo ao declínio do catolicismo, que caiu de 65,1% em 2010 para 56,7% em 2022, e à desaceleração do avanço evangélico, que cresceu de 21,6% para 26,9%, mas com menos ímpeto do que nas décadas anteriores. Outras religiões, como umbanda e candomblé (1%) e espiritismo (1,8%), também ganharam espaço, mas em menor proporção.

Especialistas atribuem o aumento dos sem religião a fatores como:

  • Desinstitucionalização: Jovens rejeitam hierarquias religiosas e preferem espiritualidades personalizadas.
  • Urbanização e educação: Cidades grandes e maior acesso à educação incentivam o questionamento de dogmas.
  • Pluralismo cultural: A exposição a diferentes crenças leva a uma visão mais eclética da espiritualidade.
  • Influência global: A secularização em países como o Uruguai e o Chile, onde 16% da população é sem religião, reflete uma tendência latino-americana.

A ascensão dos sem religião está redefinindo o papel das instituições religiosas no Brasil. Na política, candidatos precisam se adaptar a um eleitorado mais plural e menos vinculado a credos específicos, o que pode reduzir a influência de bancadas religiosas no Congresso. No cotidiano, o aumento da diversidade religiosa desafia políticas públicas baseadas em valores morais tradicionais.

Além disso, o grupo sem religião não é homogêneo. Muitos são "experimentadores", como descrito pela socióloga Danièle Hervieu-Léger, frequentando atividades religiosas sem se filiar a uma instituição. Essa fluidez reflete um Brasil em transição, onde a fé se fragmenta e se reinventa, como destaca o Blog do Esmael: "O Brasil não é mais o país de um altar só".

Sendo assim, projeções indicam que a pluralidade religiosa continuará crescendo. Até 2032, católicos e evangélicos podem representar cerca de 40% cada, com os sem religião e outras crenças somando mais de 20% da população. Essa transformação silenciosa, como descrita por especialistas, mostra um Brasil que rediscute sua identidade espiritual.

Vale lembrar que os dados do Censo 2022 confirmam que os sem religião não são apenas uma estatística, mas um reflexo de uma sociedade em busca de novos significados para a fé. Seja por rejeição às instituições, busca por autonomia ou influência de um mundo mais conectado, esse grupo está moldando o futuro religioso do país.

by Wagner Miranda

Fontes e Referências:

segunda-feira, 2 de junho de 2025

O Controle da Informação e a Manipulação das Massas

O regime nazista, sob o comando de Adolf Hitler, consolidou seu poder não apenas através da força militar e da repressão política, mas também por meio de um rígido controle sobre a informação. A censura foi uma ferramenta essencial para ocultar os crimes do regime, manipular a opinião pública e garantir a adesão inquestionável da população aos ideais nazistas.

Um dos pilares da censura nazista foi o controle do sistema judiciário. Otto Georg Thierack, ministro da Justiça do Reich a partir de 1942, trabalhou em estreita colaboração com o governo para assegurar que as leis fossem interpretadas de acordo com os interesses do Partido Nazista. Thierack solicitava à Suprema Corte alemã (Volksgerichtshof, ou "Tribunal do Povo") medidas repressivas que eram imediatamente validadas por Roland Freisler, o infame juiz-presidente conhecido por seus julgamentos sumários e sentenças brutais contra opositores do regime (Evans, 2005).

Freisler, um fervoroso nazista, presidiu mais de 5.000 sentenças de morte, muitas delas contra dissidentes políticos, judeus e quaisquer indivíduos que divulgassem informações contrárias à propaganda oficial (Hett, 2014). O sistema judicial, portanto, não funcionava como um poder independente, mas como um braço do aparato repressivo nazista, garantindo que qualquer voz crítica fosse silenciada. Já em 1933 suspenderam liberdades civis, permitindo censuras prévias e prisão sem julgamento. Em 1935 criminalizou a "traição por palavras" (Wehrkraftzersetzung), punindo críticas ao governo com prisão ou morte.

Enquanto o judiciário eliminava a oposição, Joseph Goebbels, ministro da Propaganda, assegurava que apenas a narrativa nazista chegasse ao público. Em 10 de maio de 1933 estudantes e SA queimaram 25.000 livros em praças públicas e autores como Thomas Mann, Bertolt Brecht, Erich Maria Remarque foram baninos. Em 4 de outubro de 1933, o regime aprovou a Lei dos Editores (Schriftleitergesetz), que proibia qualquer publicação que "enfraquecesse a força do Reich" ou "ferisse a honra alemã". Todos os jornais - 4.700, revistas e emissoras de rádio foram colocados sob o controle direto do Ministério da Propaganda. Em 1944 só restavam 1.000 jornais, todos alinhados ao regime (Welch, 1983).

Até mesmo o cinema foi instrumentalizado. Goebbels supervisionava pessoalmente a produção de filmes, garantindo que apenas obras que glorificassem o nazismo ou difamassem os inimigos do regime fossem lançadas (Kershaw, 2001). Documentários como "O Eterno Judeu" (1940) serviam para desumanizar os judeus, enquanto noticiários manipulados, como os "Wochenschau", mostravam uma versão distorcida da guerra. 20.000 obras foram confiscadas de museus e queimadas (Evans, 2005). 1.300 jornalistas (entre 1933-1939) foram presos ou eliminados por Fake News - "notícias falsas" (Kershaw, 2001). E eles consideravam "notícias falsas" qualquer publicação contra o regime e que expusesse a verdade a o povo  (Gellately, 2001).

Qualquer pessoa que tentasse divulgar informações fora do controle do Estado enfrentava prisão, tortura ou morte. A Gestapo (polícia secreta) e a SS monitoravam ativamente a população, incentivando denúncias contra "inimigos do Reich". Entre 1933 e 1945, milhares de jornalistas, escritores e cidadãos comuns foram enviados para campos de concentração por distribuir panfletos anti-nazistas ou simplesmente por ouvir rádios estrangeiras. 15.000 execuções por "crimes políticos" foram registradas (Gellately, 2001).

Um caso emblemático foi o da Rosa Branca, um grupo de estudantes que distribuía panfletos denunciando os crimes nazistas. Seus membros, incluindo Sophie e Hans Scholl, foram presos e executados em 1943 (Dumbach & Newborn, 2006).

A censura na Alemanha nazista não foi apenas uma medida de controle, mas um mecanismo essencial para sustentar o regime. Ao suprimir a verdade, manipular a mídia e eliminar dissidentes, Hitler e seus colaboradores criaram uma sociedade onde apenas a voz do Estado era ouvida. O resultado foi uma nação inteira cúmplice, por ação ou omissão, em um dos regimes mais brutais da história.

O regime nazista não apenas suprimiu a verdade, mas reescreveu a realidade criando uma população doutrinada e incapaz de acessar fatos, facilitando crimes em massa como o Holocausto, através de:

  • Controle jurídico (Freisler/Thierack).
  • Monopólio da informação (Goebbels).
  • Eliminação física de dissidentes (Gestapo/SS).

A sociedade alemã foi tão responsável pelo ocorrido quanto o proprio ditador, pois 1 em cada 3 alemães denunciou alguém à Gestapo por 'falar contra o regime'. A censura foi meticulosamente planejada e executada para garantir a dominação total do regime nazista sobre a sociedade alemã e em 1944 95% dos alemães só tinha acesso a notícias aprovadas por Goebbels. 

E por falta de conhecimento a história tende a se repetir, pois assim como fake news hoje, os nazistas usavam mentiras repetidas até virar 'verdade'.

by Wagner Miranda


Referências Bibliográficas

  • Evans, R. J. (2005). The Third Reich in Power. Penguin Books.
  • Gellately, R. (2001). Backing Hitler: Consent and Coercion in Nazi Germany. Oxford University Press.
  • Hett, B. C. (2014). Burning the Reichstag: An Investigation into the Third Reich's Enduring Mystery. Oxford University Press.
  • Kershaw, I. (2001). Hitler: 1936–1945 Nemesis. W.W. Norton & Company.
  • Welch, D. (1983). Nazi Propaganda: The Power and the Limitations. Croom Helm.
  • Dumbach, A. & Newborn, J. (2006). Sophie Scholl and the White Rose. Oneworld Publications.
  • Correção: DeepSeek e Grok
  • Auxílio: Manus.im
  • Foto: GPT Image Generator

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