Um dos pilares da censura nazista foi o controle do sistema judiciário. Otto Georg Thierack, ministro da Justiça do Reich a partir de 1942, trabalhou em estreita colaboração com o governo para assegurar que as leis fossem interpretadas de acordo com os interesses do Partido Nazista. Thierack solicitava à Suprema Corte alemã (Volksgerichtshof, ou "Tribunal do Povo") medidas repressivas que eram imediatamente validadas por Roland Freisler, o infame juiz-presidente conhecido por seus julgamentos sumários e sentenças brutais contra opositores do regime (Evans, 2005).
Freisler, um fervoroso nazista, presidiu mais de 5.000 sentenças de morte, muitas delas contra dissidentes políticos, judeus e quaisquer indivíduos que divulgassem informações contrárias à propaganda oficial (Hett, 2014). O sistema judicial, portanto, não funcionava como um poder independente, mas como um braço do aparato repressivo nazista, garantindo que qualquer voz crítica fosse silenciada. Já em 1933 suspenderam liberdades civis, permitindo censuras prévias e prisão sem julgamento. Em 1935 criminalizou a "traição por palavras" (Wehrkraftzersetzung), punindo críticas ao governo com prisão ou morte.
Enquanto o judiciário eliminava a oposição, Joseph Goebbels, ministro da Propaganda, assegurava que apenas a narrativa nazista chegasse ao público. Em 10 de maio de 1933 estudantes e SA queimaram 25.000 livros em praças públicas e autores como Thomas Mann, Bertolt Brecht, Erich Maria Remarque foram baninos. Em 4 de outubro de 1933, o regime aprovou a Lei dos Editores (Schriftleitergesetz), que proibia qualquer publicação que "enfraquecesse a força do Reich" ou "ferisse a honra alemã". Todos os jornais - 4.700, revistas e emissoras de rádio foram colocados sob o controle direto do Ministério da Propaganda. Em 1944 só restavam 1.000 jornais, todos alinhados ao regime (Welch, 1983).
Até mesmo o cinema foi instrumentalizado. Goebbels supervisionava pessoalmente a produção de filmes, garantindo que apenas obras que glorificassem o nazismo ou difamassem os inimigos do regime fossem lançadas (Kershaw, 2001). Documentários como "O Eterno Judeu" (1940) serviam para desumanizar os judeus, enquanto noticiários manipulados, como os "Wochenschau", mostravam uma versão distorcida da guerra. 20.000 obras foram confiscadas de museus e queimadas (Evans, 2005). 1.300 jornalistas (entre 1933-1939) foram presos ou eliminados por Fake News - "notícias falsas" (Kershaw, 2001). E eles consideravam "notícias falsas" qualquer publicação contra o regime e que expusesse a verdade a o povo (Gellately, 2001).
Qualquer pessoa que tentasse divulgar informações fora do controle do Estado enfrentava prisão, tortura ou morte. A Gestapo (polícia secreta) e a SS monitoravam ativamente a população, incentivando denúncias contra "inimigos do Reich". Entre 1933 e 1945, milhares de jornalistas, escritores e cidadãos comuns foram enviados para campos de concentração por distribuir panfletos anti-nazistas ou simplesmente por ouvir rádios estrangeiras. 15.000 execuções por "crimes políticos" foram registradas (Gellately, 2001).
Um caso emblemático foi o da Rosa Branca, um grupo de estudantes que distribuía panfletos denunciando os crimes nazistas. Seus membros, incluindo Sophie e Hans Scholl, foram presos e executados em 1943 (Dumbach & Newborn, 2006).
A censura na Alemanha nazista não foi apenas uma medida de controle, mas um mecanismo essencial para sustentar o regime. Ao suprimir a verdade, manipular a mídia e eliminar dissidentes, Hitler e seus colaboradores criaram uma sociedade onde apenas a voz do Estado era ouvida. O resultado foi uma nação inteira cúmplice, por ação ou omissão, em um dos regimes mais brutais da história.
O regime nazista não apenas suprimiu a verdade, mas reescreveu a realidade criando uma população doutrinada e incapaz de acessar fatos, facilitando crimes em massa como o Holocausto, através de:
- Controle jurídico (Freisler/Thierack).
- Monopólio da informação (Goebbels).
- Eliminação física de dissidentes (Gestapo/SS).
A sociedade alemã foi tão responsável pelo ocorrido quanto o proprio ditador, pois 1 em cada 3 alemães denunciou alguém à Gestapo por 'falar contra o regime'. A censura foi meticulosamente planejada e executada para garantir a dominação total do regime nazista sobre a sociedade alemã e em 1944 95% dos alemães só tinha acesso a notícias aprovadas por Goebbels.
E por falta de conhecimento a história tende a se repetir, pois assim como fake news hoje, os nazistas usavam mentiras repetidas até virar 'verdade'.
by Wagner Miranda
Referências Bibliográficas
- Evans, R. J. (2005). The Third Reich in Power. Penguin Books.
- Gellately, R. (2001). Backing Hitler: Consent and Coercion in Nazi Germany. Oxford University Press.
- Hett, B. C. (2014). Burning the Reichstag: An Investigation into the Third Reich's Enduring Mystery. Oxford University Press.
- Kershaw, I. (2001). Hitler: 1936–1945 Nemesis. W.W. Norton & Company.
- Welch, D. (1983). Nazi Propaganda: The Power and the Limitations. Croom Helm.
- Dumbach, A. & Newborn, J. (2006). Sophie Scholl and the White Rose. Oneworld Publications.
- Correção: DeepSeek e Grok
- Auxílio: Manus.im
- Foto: GPT Image Generator
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